Médicos se deparam com um súbito crescimento de graves doenças e problemas de saúde, usualmente levando as vítimas ao óbito. Complicações observadas em faixas etárias específicas passam a afetar todas as outras
Resultados de exames médicos revelam que a concentração de micropartículas de plástico no organismo apresenta um limiar. Depois de ultrapassado, torna-se irreversível a ocorrência de graves problemas de saúde e a morte. A única salvação viável é suspender a ingestão de micropartículas de plástico.
A descoberta encontra duas reações imediatas. Os negacionistas contestam os médicos e seus resultados, disputando a veracidade dos fatos narrados. Os tecnologistas, por sua vez, apontam o desenvolvimento de uma solução técnica de filtragem do sangue - uma tecnologia irreal - para resolução do problema.
À medida que a situação avança, organizam-se grupos ativistas de desobediência civil, demandando dos políticos o banimento do plástico. A economia global, segundo os economistas, desaceleraria e enfrentaria uma recessão, degradando para o caos, se o plástico fosse completamente banido.
As medidas crescentemente contestatórias dos ativistas - e estupidamente despolitizadas - passam a enfrentar resistências também de populações sob a pressão de uma crise econômica. Com a contagem de problemas de saúde e de mortes provocadas pelo plástico subindo e se espalhando pelo mundo, torna-se cada vez mais agressiva a estratégia negacionista.
Uma dissidência dos ativistas desiste da tática de desobediência civil e inaugura o movimento isolacionista, propondo a estruturação de comunidades rurais sob um modo de vida que eliminaria qualquer fonte de poluição por plástico. Logo descobrem que os lugares do mundo menos afetados, em que se encontram fontes de água mineral não contaminadas, haviam sido colonizados pela elite, que criara para si oásis livres de plástico.
A maior parte da população mundial se perde em meio ao oceano de desinformação das redes sociais. Alguns continuam a agir como se nada estivesse acontecendo. Os conformistas vêem como inevitável enfrentar o destino de morrer. Os grupos religiosos aderem ao estoicismo e ao negacionismo.
Funerais e lutos se transformam em rituais ordinários no cotidiano dos cidadãos. Os financiadores do negacionismo fomentam a aceitação do destino, criando um culto à morte. Os indivíduos passam a sonhar qual órgão de seu organismo será afetado e qual será a causa de sua morte. Aqueles que acertam a própria previsão recebem reconhecimento público.
Em meio a uma queda global da expectativa de vida para índices registrados pela última vez séculos atrás, inicia-se uma campanha massiva de incentivo à reprodução, a fim de elevar a taxa de nascimentos e se manter a força de trabalho.
As elites, cuja taxa de enriquecimento colapsa, elaboram complicados jogos de guerra uma contra as outras, comprometendo seus oásis livres de plástico, onde se planta e se criam animais de forma controlada. Cada vez mais assumem a faceta de chefes de milícia.
Novos tipo de casta emergem na categorização dos indivíduos: os contaminados por plástico, vivendo sob regimes autoritários, os servidores da elite no interior dos oásis não contaminados e a elite da aristocracia miliciana.
Escritor
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