Escritoras brasileiras: Lygia Fagundes Telles - Escritor CF Scuo
Ana Clara MeloEscritores brasileiros

Escritoras brasileiras: Lygia Fagundes Telles

Uma das mulheres a quem a literatura brasileira do século XX deve muito de sua riqueza foi Lygia Fagundes Telles. A autora criou uma obra poderosa, reflexiva e permeada por uma profunda sensibilidade.

Natural da cidade de São Paulo, Lygia Fagundes se formou em educação física e direito pela Universidade de São Paulo - uma das poucas mulheres do curso. A formação lhe permitiu uma carreira no direito, em particular como procuradora do Instituto de Previdência do Estado de São Paulo.

A escritora estreou na década de 1930. Publicou três livros de contos até o final da década de 1940. Mas ela posteriormente se arrependeu desses livros por considerá-los precipitados.

Em 1954, Lygia publicou "Ciranda de Pedra", um romance centrado em relações familiares e sociais, com personagens femininas atravessando dilemas da adolescência e amarguras da vida adulta. Ganhou o reconhecimento da crítica e do público.

Emancipação feminina


O sucesso editorial de Lygia não foi um feito simples. Em grande medida, ela e sua obra romperam com o patriarcalismo nacional. Primeiro, no que dizia respeito ao machismo do meio literário do meio do século passado, em que os protagonistas eram majoritariamente homens.

E também porque, em seus livros de conto e romances, as personagens de Lygia destoavam das posições socialmente esperadas duma mulher à época: subserviente e passiva. Antes, elas encarnavam valores de estabilidade, racionalidade, usualmente atribuições masculinas.

Tampouco os personagens masculinos correspondiam aos esteriótipos sociais. Nas páginas escritas pela autora, eles apareciam com a mesma característica encontrada nas ruas da cidade: às vezes inseguros, com fraquezas. Ambos, mulheres e homens, criados numa condição de igualdade psicológica e social.

Sucesso de crítica e público


Sua escrita é frequentemente elogiada pela originalidade, estilo e profundidade psicológica. A obra de Lygia Fagundes Telles explora temas como a condição humana, a identidade, o poder e a marginalização social, retratando a complexidade do ser humano e suas relações interpessoais.

Além de "Ciranda de Pedra", Lygia publicou outros livros que se tornaram referências clássicas da literatura brasileira. Entre eles, listam-se "Antes do Baile Verde", de 1970, "As Meninas", de 1973, e "Seminário dos Ratos", de 1977.

Ela escreveu mais de uma dezena de livros de contos, quatro romances, crônicas e memórias. Lygia recebeu vários prêmios nacionais - quatro vezes o Prêmio Jabuti - e o Prêmio Camões em 2005, destinado ao reconhecimento do conjunto da obra de escritores de língua portuguesa.

Polêmica na morte


Lygia Fagundes Telles faleceu em 2022. Vários veículos de comunicação, no Brasil e no exterior, noticiaram a morte da escritora, aos 98 anos de idade - segundo diversas fontes.

Contudo, veio à público uma polêmica quanto à data de nascimento. Apesar de Lygia Fagundes Telles afirmar ter nascido em 1923, documentos de cartório indicavam uma data diferente, atestando que a autora nascera no ano de 1918.

Dessa forma, Lygia faleceu com 103 anos de idade. Teria ela escondido a própria idade? O envelhecimento, afinal de contas, foi um dos temas de sua literatura. O fato é que se perdeu, nessa troca de datas, a oportunidade de se comemorar o centenário da escritora ainda em vida. Um final que talvez combinasse com seus livros.



Por Ana Clara Melo
Crítica Literária


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